domingo, abril 10, 2011

“Le Pen não mete medo a ninguém”

Ibraim Silá, 27 anos, filho de senegaleses, estudou contabilidade mas é taxista. Cresceu em Paris “com a impressão de ser um peso para a França” e considera que Marine Le Pen “tem que perceber que vai precisar sempre dos imigrantes”.

[Para a agência Lusa]

O jovem ao volante de um táxi preto, luxuoso e perfumado, “mas o mesmo preço do que os outros”, conta à agência Lusa que chegou aqui “depois de ter decidido tomar o seu destino em mãos”, porque “em França a discriminação é um facto”.

Estudou contabilidade mas “as origens” dificultaram-lhe o caminho para “alcançar um estatuto, chegar a um determinado nível, conseguir um emprego na área”.

“É simples. Se um se chama Pierre e o outro Ibrahim escolhe-se o branco”, ilustrou.

Discorda de todas as ideias do partido da extrema-direita francesa, a Frente Nacional (FN), que tem vindo a subir nas intenções de voto dos franceses.

“Crescemos todos com a imagem de que eles não gostam dos imigrantes, querem que saiamos, pensam que somos um peso para a França, um peso para a União Europeia. Temos a impressão de que somos diferentes deles, afirmou.

“Acho triste que neste mundo existam ainda pessoas com este género de pensamentos. É lamentável que em 2011 ainda exista toda esta discriminação, que possamos ainda falar de racismo, que possamos ainda falar de cor”, argumenta.

A resposta a isto, diz, “é trabalhar, é conseguir”. Não se considera “um exemplo típico” porque é motorista de táxi mas diz ter orgulho naquilo que alcançou. “Trabalho em França, ganho o meu dinheiro em França, pago os meus impostos em França”, diz. Ibraim trabalha 11 horas por dia, sete dias por semana. Ganha entre mil e 1500 euros por mês.

Considera que a líder da FN, Marine Le Pen, “tem que perceber que a França precisou – e vai precisar sempre – dos seus imigrantes”: “Sentir a humilhação a que [os discursos da FN] nos submetem magoa”, diz.

Ainda assim, e apesar da crescente popularidade da líder, cujas sondagens mostram cada vez mais próxima de passar à segunda volta das eleições presidenciais de 2012, Ibraim lembra que “o caminho da integração se fez pouco a pouco” e garante que Marine Le Pen “não mete medo a ninguém”.

sábado, abril 09, 2011

Manuel Domingues serve "specialités portugaises" aos Le Pen quase todos os dias

Manuel Domingues é há 22 anos proprietário do restaurante Chez Tonton, que fica na rua da sede da Frente Nacional, em Nanterre, Paris, e põe “specialités portugaises” na mesa dos Le Pen “quase todos os dias”.

[Para a agência Lusa]

Rue des Suisses, Nanterre. A meio da longa reta. A Chez Tonton tem uma fachada pequena, com linhas direitas, duas janelas grandes e um toldo vermelho. Lá dentro cheira, ao final da tarde, a vinho e a cigarros. Joga-se às cartas. Ouve-se televisão em português.

Aqui “quase todos os clientes – ou pelo menos 95 por cento dos clientes – são apoiantes da Frente Nacional (FN) [partido da extrema-direita francesa]”, disse à agência Lusa o homem que vai dar corpo a esta história.

Manuel Domingues é natural de Arcos de Valdevez e está em França há 35 anos. É militante da FN, “admirador e amigo” de Jean-Marie Le Pen, líder histórico do partido, e de Marine Le Pen, filha do líder, eleita presidente da FN em janeiro deste ano. “Fiz muitos militantes. Clientes que vieram aqui, que me pediram. Já filiei mais de 200 ou 300 pessoas. Portugueses, franceses, espanhóis”, contou para dizer logo a seguir que “a casa não é muito grande, mas é cheia de riqueza e de carinho para toda a gente, é uma maneira de reagir”.

Sobre imigração, bandeira forte do partido em que milita, o português esclarece que também ele, imigrante, se opõe aos “lambões que não querem trabalhar”.

“Acho que a FN pensa muito bem dos imigrantes. Todos os que trabalham merecem respeito mas aqueles que não trabalham, que só querem viver da assistência social, já começam a cheirar mal. É pô-los a trabalhar, ou então que vão lá para as Áfricas ou para as vidas deles”, defendeu. É por isso que a FN conta com o seu voto e com a sua militância. O resto é coração.

Depois das escadas exíguas e íngremes que levam ao primeiro andar do restaurante português há uma sala “unicamente reservada para a amizade com Jean-Marie Le Pen, com Marine Le Pen, e com todos os que os acompanhem”.

Ao centro há uma mesa corrida, posta, pronta. Pelas paredes há “souvenirs” de episódios da história do partido que se cruzaram com a vida de Manuel Domingues: uma fotografia com o histórico dirigente da FN, autografada por ele; um poster com o retrato “da menina Marine, pendurado em frente ao lugar onde ela se senta”; e outras imagens de outros líderes do partido.

Manuel Domingues tem muitas mais fotografias nas mãos. Nesta mesa sentam-se pessoas muito simples, que não fazem pedidos especiais, que não têm complicações nenhumas na comida nem na bebida”, que “comem o que há”. Pai e filha. “Se eu tenho comida portuguesa comem comida portuguesa todos os dias”, conta. E conta também que às vezes é sopa, às vezes moelas, às vezes feijoada.

Para Manuel Domingues, o partido ficará bem sob a liderança da herdeira e França terá muita sorte se ela for eleita Presidente da República: “Porque é uma mulher de respeito, uma mulher aberta, uma mulher que não tem maldade nenhuma, e uma mulher que sabe aquilo que diz, e quando ela diz qualquer coisa é realmente verdade”. França terá sorte em tê-la como Presidente também porque “esta é uma mulher simples”. Na véspera, “jantou nesta sala bife com salada e moelas”.